• Juan Pablo D. Boeira*
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 (Foto: Reprodução/Unsplash)

Conforme já mencionei em outra edição aqui da coluna Changemaker, inovar é transformar boas ideias em realidade, com sucesso e de forma contínua. Significa converter conhecimentos e ideias em produtos ou serviços, processos novos ou aprimorados para obter vantagens competitivas. Qualquer inovação pode significar um salto radical, algo que o mercado nunca viu, ou pode ser incremental, pegando um conceito existente e melhorando ou transformando-o em algo novo.

Em ambos os casos, a inovação é o resultado do processo de gestão de um fluxo contínuo de projetos e programas que canaliza os recursos necessários para o seu sucesso. É um processo de gestão aberta que pode ser desenhado, implementado e aprimorado em todas as empresas e organizações. Se bem gerido, favorece a criação de uma “cultura inovadora”.

A gestão do processo de inovação ajuda empresas e pessoas a compartilhar conhecimentos, fazendo contribuições e decisões sobre a tomada de riscos, benefícios e valor estratégico associado. O processo de inovação inclui desafios que devem ser enfrentados de forma eficiente e particularizada para cada empresa ou organização. Alguns desses desafios são:

- Dificuldade em selecionar as ideias certas e reconhecer oportunidades;
- Dificuldade em investir essas ideias nos mercados certos e com recursos adequados;
- Dificuldade em captar e compreender a “voz do cliente”, seus desejos e necessidades, explícitos e implícitos;
- Entender o mercado e sua globalidade, assim como os fatores que influenciam a encontrar o segmento certo;
- Estabelecer corretamente o custo e o valor potencial dos projetos, entradas e saídas, para garantir os recursos financeiros;
Identificar e compreender o modelo mental correto ou paradigma apropriado;
- Encontrar e trabalhar com as pessoas certas para aproveitar as contribuições de todos, equipes, clientes, etc;
- Aumentar a agilidade, a transparência, as medidas, indicadores e uma boa colaboração de todos no processo;
- Criar protótipos para gerar observações e testar ideias por meio da realidade mais próxima;
- Gerenciar o fluxo de caixa necessário em cada projeto e para o fluxo total de projetos e programas;
- Otimizar as medidas de gestão da inovação e seu processo;
- Ter capacidade de eliminar ou redesenhar projetos, quando as mudanças o exigirem.

Diante deste cenário, as empresas precisam responder rapidamente a mudanças de todos os tipos e ainda desenvolver novos produtos, serviços ou modelos de negócios. Além disso, elas também precisam inovar os processos internos para serem mais competitivas ou se posicionarem corretamente no segmento certo.

Muitas vezes, as tecnologias e métodos para fazer isso estão disponíveis, mas 85 a 90 por cento dos novos projetos falham devido a estruturas rígidas. É necessário ter métodos ágeis de inovação, para integrar o design ao desenvolvimento, os ensaios ao uso e a introdução. Portanto, é cada vez mais operante que as organizações acelerem seus processos de inovação. Neste sentido, a inovação ágil resulta da aplicação da metodologia “Lean” na aceleração do processo de inovação e tudo que estiver relacionado.

O termo “Lean” sugere algo sem gordura, leve e, portanto, livre de pesos desnecessários. Já o termo “Agile” é semelhante, mas também tem conotação de movimento, velocidade ou capacidade de adquirir velocidade, ou seja, leve e com boa capacidade de aceleração.

Desde que a Toyota implantou seu “TPS” (Toyota Production System) em 1975, com seus resultados e sucesso, o termo “Lean” rapidamente se expandiu por todo o mundo. Hoje ele se aplica não só à produção ou nos campos industriais, mas também aos processos de empresas e organizações de todos os tipos. Nós o aplicamos à inovação. Dessa forma, a empresa ágil é aquela que tem administrado suas prioridades, primeiro ganhando velocidade em todos os processos e depois aplicando novos recursos à inovação.

Entretanto, é necessário fazer uma distinção entre o que é velocidade em empresas que já têm uma história de inovação e, portanto, uma cultura desenvolvida ao longo do tempo e empresas muito jovens ou recém-criadas como uma “Startup”. Uma “startup enxuta” busca “criar” um novo modelo de negócio, ao invés de “administrar” um modelo existente.

Velocidade, neste caso, é a atividade simultânea de processos encadeados. São ciclos de desenvolvimento e ciclos de aprendizagem que contribuem nos processos de desenvolvimento, mensurações e aprendizados. É necessário repetir os ciclos, perseverar ou pivotar e criar um modelo de negócios baseado no produto mínimo viável (MVP). Resumindo: O processo de inovação é agilizado por meio de metodologias “Lean”.

Veja a seguir as características que definam uma empresa ágil:

- Leveza: Vem da ausência de “cobranças”. No sentido de uma estrutura leve, não complicada, não autoritária ou burocrática. Em qualquer caso, fazendo aplicação das técnicas “Lean” a todos os processos, incluindo principalmente a inovação;
- Velocidade: Isso não significa que tudo deve ser feito mais rápido. Significa uma alta porcentagem de tarefas e tempos que agregam valor ao tempo total do processo. Medidas de velocidade são implementadas e os tempos de ciclo são reduzidos;
- Otimização: Indica que tempos de espera e duplicações também foram eliminados. As ações são sempre realizadas no tempo e com respostas adequadas. As decisões e respostas resultam não da pressa, improvisação ou urgência, mas sim do treino e da criação de hábitos estruturados;
- Elasticidade: Também pode ser associado à flexibilidade. A flexibilidade para se adaptar mais rapidamente às mudanças de necessidades e a elasticidade de saber voltar à posição desejada em cada caso quando necessário;
- Dinamicidade: O aspecto dinâmico é contrário a algo estático ou imóvel. Uma organização dinâmica é aquela que se move em evolução contínua para melhorar e se adaptar às necessidades de mudança. Também contém o conceito de antecipação, sem o qual seria muito reativo.

Resumindo: ser ágil é muito mais do que ser “flexível” e mais do que ter “reatividade” ou “capacidade de resposta”. Desta forma, podemos imaginar uma empresa ágil em termos de inovação e mudança, como aquela que evolui constantemente em seu ambiente competitivo e que o comprova mostrando as seguintes características:

Ser a primeira a detectar e compreender as mudanças e tendências em seu ambiente;
Entendendo e antecipando as necessidades de seu segmento ou clientes;
Tendo a capacidade permanente de rápida reconfiguração face às mudanças e necessidades de novos paradigmas. Mas não apenas os detectando, mas também antecipando paradigmas;
Mostrando capacidade criativa para novos modelos de negócios.

Portanto, para desenvolver uma implementação correta de agilidade nas empresas, devemos considerar que não existe uma metodologia ágil padrão de aplicação universal. É melhor ter conceitos claros e aplicá-los de acordo com as particularidades de cada empresa ou organização, sua cultura, localização, ambiente, maturidade organizacional, trabalho em equipe, etc.

A agilidade em muitos casos implica uma mudança cultural na organização. Como em todos os casos de mudanças culturais, a forma como as pessoas percebem é fundamental. Qualquer mudança causa tensões e possivelmente resistência. Contudo, para superar isso, prioridades, funções e responsabilidades claras devem ser sempre comunicadas de forma multidisciplinar e transdisciplinar.

*Juan Pablo D. Boeira é CIO do Innovation Center, mestre e doutorando em Design Estratégico e Inovação pela UNISINOS, e professor de Inovação e Tópicos Avançados de Marketing na UNISINOS, ESPM e PUCRS