BRASÍLIA — Horas depois de receber da Casa Branca o
sinal verde
para assumir a embaixada do Brasil nos
Estados Unidos
, o deputado
Eduardo Bolsonaro
(PSL-SP) iniciou, nesta sexta-feira, um corpo a corpo com os senadores que fazem parte da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Casa. Após se reunir com Chico Rodrigues (DEM-RR), provável relator de seu nome na comissão, Eduardo afirmou ter consciência da responsabilidade do cargo, ainda mais diante da polêmica criada a partir de sua indicação.
— Se eu for para os EUA, provavelmente serei o
embaixador
mais cobrado do mundo, devido aos fatos todos que estão ocorrendo antes mesmo da minha ida — afirmou o parlamentar.
Eduardo Bolsonaro se referia, principalmente, às críticas à sua indicação. Os motivos alegados para quem não concorda com sua nomeação para o posto em Washington são o fato de o deputado ter apenas 35 anos, ser filho do presidente da República, não ter experiência na diplomacia e ser excessivamente alinhado a
Donald Trump
, que enfrenta uma disputa à reeleição no próximo ano.
—Certamente, é uma responsabilidade muito grande, mas ainda falta a sabatina no Senado. Vou me apresentar aos senadores para quebrar o gelo com aqueles que me conhecem pouco. Independentemente da resposta, seja positiva ou negativa, vou aceitá-la — disse. — A sabatina no Senado será crucial e este é meu foco no momento. Vou visitar senador por senador.
Para o senador Chico Rodrigues (DEM-RR), Eduardo detém os dois pressupostos para se tornar um embaixador: acesso e influência. Rodrigues acredita que a sabatina acontecerá dentro de 15 dias.
— Eu diria que não existe nenhum impedimento legal para que ele possa assumir a embaixada e, obviamente, [sua ida para os EUA] vai abrir uma janela de oportunidades para o Brasil. As últimas declarações do presidente Trump demonstram claramente isso.
Em nota divulgada mais cedo, o deputado disse ter recebido com alegria e orgulho a notícia da concessão, pelo governo americano, do
agrément
— que na linguagem diplomática significa autorização — e afirmou que, se seu nome for aprovado no Senado, pretende promover um “diálogo estreito” com o Legislativo, os ministérios e a comunidade brasileira nos EUA.
“Meu sentimento, além de alegria e orgulho, é também de humildade.
Caberá ao Senado Federal dar a palavra final
e, se meu nome for aprovado, haverá um intenso e árduo trabalho a ser realizado. Tenho consciência de que meu êxito dependerá, sobretudo, da colaboração e do diálogo estreito com o legislativo, os diversos ministérios e as forças vivas da sociedade, notoriamente a comunidade brasileira nos Estados Unidos da América”, diz um trecho da nota.
Bilhete de próprio punho
O deputado disse ainda que o sim dos EUA confirma o apoio e a confiança já demonstrados pelo presidente
Trump
. Em dois momentos recentes,
Trump
tornou pública sua satisfação em ter o filho do presidente
Jair Bolsonaro
como embaixador do Brasil.
Na primeira vez, elogiou Eduardo durante uma conversa com jornalistas em Washington. A segunda manifestação do presidente americano foi um bilhete escrito de próprio punho que acompanhou o agrément, recebido na quinta-feira pelo
Itamaraty
.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro, ao sair da reunião com o presidente dos EUA, Donald Trump, na Casa Branca em Washington, em agosto. O filho do presidente não deu detalhes sobre a reunião com o presidente americano Foto: YURI GRIPAS / REUTERS
Eduardo Bolsonaro no Salão Oval da Casa Branca com Donald Trump e o pai durante visita oficial do presidente aos Estados Unidos: chanceler Ernesto Araújo ficou de fora, em março Foto: Reprodução/Twitter
Eduardo Bolsonaro não vê como nepotismo sua indicação para embaixador nos Estados Unidos, feita pelo pai o presidente Jair Bolsonaro Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo
Eduardo foi com o pai à reunião de cúpula do G-20 em Osaka, Japão, em junho. Ele postou no Twitter uma foto ao lado do pai e de Trump, comemorando a troca de elogios entre os presidentes Foto: Reprodução/Twitter
O chamado "03" esteve nos EUA antes mesmo da posse do pai, ajudando a preparar a viagem de Bolsonaro, em março; após reunião na Casa Branca, usou um boné da campanha de Trump à reeleição Foto: Henrique Gomes Batista / Agência O Globo
Eduardo Bolsonaro é deputado federal por São Paulo. O ministro do STF Marco Aurélio Mello afirmou que, se for confirmado como embaixador, terá que renunciar ao mandato Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo
O deputado é próximo de ultraconservadores americanos como Steve Bannon, estrategista da campanha de Trump em 2016; na foto, os dois posam durante encontro na Flórida Foto: Reprodução/Twitter
Eduardo Bolsonaro com boné onde se lê "Faça o Brasil grande de novo", em menção ao slogan de campanha de Trump à Presidência dos EUA: Senado vai decidir sobre sua indicação à embaixada em Washington Foto: Paole De Orte 16-03-19
Eduardo também preside a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, atuando como "chanceler informal" e articulador de relações internacionais mesmo antes da posse de Bolsonaro Foto: Jorge William / Agência O Globo
Eduardo Bolsonaro e o pai na primeira viagem oficial ao exterior, a Davos, Suíça, para a Reunião Anual do Fórum Econômico Mundial Foto: Reprodução/Twitter
Olavo de Carvalho, guru da direita e um dos principais representantes do ultraconservadorismo brasileiro, tem entre seus admiradores Eduardo Bolsonaro Foto: Reprodução/Twitter
Eduardo Bolsonaro com o Príncipe Mohammed Bin Salman da Arábia Saudita durante a cúpula do G-20 no Japão, em junho; príncipe é acusado de envolvimento no assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, morto na embaixada saudita em Istambul Foto: Reprodução/Twitter
Eduardo Bolsonaro ao lado do assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, Filipe Martins, durante viagem presidencial à Argentina; os dois são seguidores de Olavo de Carvalho Foto: Reprodução/Twitter
Eduardo no casamento com Heloísa Wolf, neste ano; ele completou 35 anos em julho, preenchendo assim um dos requisitos para ser embaixador Foto: Agência O Globo
Eduardo Bolsonaro é escrivão da Polícia Federal licenciado e defende a liberalização do uso de armas pela população Foto: Reprodução/Twitter
O deputado federal Eduardo Bolsonaro está em campanha para conseguir apoio no Senado e ser confirmado embaixador do Brasil nos Estados Unidos Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
Indicado pelo pai para assumir a embaixada em Washington, Eduardo Bolsonaro participa de jantar com empresários da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), em São Paulo Foto: AMANDA PEROBELLI / REUTERS
Eduardo Bolsonaro em visita ao senador Chico Rodrigues (DEM- RR). O senador é o possível relator da indicação de Eduardo Bolsonaro à embaixada do Brasil em Washington Foto: Jorge William / Agência O Globo
Para conseguir o cargo de embaixador, Eduardo Bolsonaro tem que passar por uma avaliação de currículo e sabatina dos 19 senadores que formam a Comissão de Relações Exteriores (CRE). Foto: FatoPress / Agência O Globo
Na campanha para a embaixada, Eduardo Bolsonaro postou vídeo com o que afirma serem suas qualidades para ser nomeado embaixador em Washington Foto: Terceiro / Agência O Globo
Eduardo Bolsonaro disse que o pai ainda não o indicou oficialmente por estar inseguro sobre os votos para aprovação. O deputado falou sobre o assunto em jantar com a presença de 14 senadores oferecido pelo senador Lucas Barreto (PSD-AP) Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo (direita), e o deputado Eduardo Bolsonaro, presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional; os dois se reuniram com o presidente dos EUA, Donald Trump (30/08) Foto: Arthur Max / Agência O Globo
O deputado postou nas redes sociais o print com comentário do pai, presidente Jair Bolsonaro, sobre a viagem dele aos EUA. Segundo o presidente, o tema principal da reunião com Trump é a Amazônia Foto: Redes sociais
O deputado afirmou ter sido surpreendido com a notícia. Segundo uma fonte, Trump teria escrito que “mal pode esperar para trabalhar com Eduardo”.
“O sinal verde dos Estados Unidos da América, portanto, é motivo de orgulho para mim, ao confirmar o apoio e a confiança já expressas de viva voz pelo presidente Donald Trump na minha capacidade de ser um representante do Brasil à altura do desafio de construir uma nova relação bilateral. Um sentido verdadeiramente estratégico, para assim aprofundar a cooperação e promover a segurança, a prosperidade e o bem-estar de brasileiros e norte-americanos”, completa a nota.
