Por G1


Mauricio Macri e Alberto Fernández, candidatos à presidência, participam das eleições na Argentina neste domingo (27) — Foto: Alejandro Pagni/AFP e AP/Gustavo Garello

Os argentinos vão às urnas neste domingo (27) para escolher entre dois modelos antagônicos para um governo de 4 anos que tem o desafio de superar a grave crise econômica em que seu país se encontra atualmente. A eleição começou às 8h (horário de Brasília).

O presidente Mauricio Macri, liberal, tenta a reeleição, mas para isso teria de reverter o resultado das primárias de 11 de agosto, em que ficou em segundo com 32,93% dos votos, a quase 17 pontos do adversário Alberto Fernández (49,49%).

Fernández, o favorito, nunca concorreu a um cargo majoritário. Ele é um dirigente peronista, a principal corrente política do país. Ele foi escolhido pela ex-presidente Cristina Kirchner para liderar a chapa –ela é a candidata a vice.

A diferença a favor do peronista foi aumentando em relação aos resultados das primárias, de acordo com as pesquisas. A tarefa de levar a disputa para o segundo turno não será fácil para Macri.

Os dois votaram na manhã deste domingo. "Acho que vai ter mais participação do que nunca, pelo menos em várias décadas", disse Macri. "É um dia de alegria. Cada vez que se vota reafirmamos nossa vocação democrática", comentou Fernández.

As projeções apontam que Fernández deverá ter cerca de 52% dos votos válidos. Macri teria cerca de 32%. Assim, Fernández pode levar no primeiro turno, pois basta obter mais de 45% dos votos ou então mais de 40% e superar o segundo mais votado por mais de dez pontos.

A aposta do governo é que o número de eleitores aumente em relação às prévias. Há cerca de 33,8 milhões de eleitores, e nas prévias foram 25,8 milhões de votos (cerca de 76% do total).

País dividido

Quem for eleito governará um país dividido. Para muitos argentinos, um eventual retorno do peronismo de Kirchner é uma catástrofe.

"Acredito no Mauricio, ele precisa de tempo para mudar isso. E, claro, tem os Fernández. Eles já demonstraram o que fazem", afirmou Alejandro Arguello, aposentado de 53 anos, na festa de encerramento da campanha do atual presidente em Córdoba.

Acreditando que sua vitória é garantida, Fernández declarou: "Que os argentinos fiquem calmos, respeitaremos seus depósitos em dólares".

Mauricio Macri e Alberto Fernandez em debate durante a campanha — Foto: Reuters

Ele se referia ao fantasma do "corralito" durante a crise de 2001, quando os depósitos bancários foram retidos e os dólares convertidos em pesos, deixando os correntistas com muito menos em conta do que pensavam ter.

Com décadas de inflação e desvalorizações cíclicas, os argentinos estão acostumados a se refugiar no dólar como forma de poupança.

A moeda argentina desvalorizou 70% desde janeiro de 2018. Nos dias que antecedem as eleições, os mercados estão reaquecendo e a taxa de câmbio excede 63 pesos por dólar.

Chapa de Alberto Fernández e Cristina Kirchner venceu as primárias e está à frente nas pesquisas — Foto: AGUSTIN MARCARIAN/REUTERS

Em meados de 2018, no meio de uma corrida cambial, Macri foi ao Fundo Monetário Internacional, que concedeu a ele ajuda financeira de US$ 57 bilhões em três anos, em troca de um programa de forte ajuste fiscal, que jogou contra o presidente no momento da votação.

Ainda falta a liberação de US$ 13 bilhões, mas o FMI aguarda o resultado da eleição para negociar com quem for eleito.

Durante a campanha, Fernández propôs uma trégua de 180 dias para sindicatos e movimentos sociais para fazer descolar a indústria e assim o país retomar o crescimento econômico.

Por outro lado, Macri, sob o lema "Sim, podemos", pede um voto de confiança para continuar na linha de austeridade, que, ele argumenta, deve dar frutos muito em breve.

"Que as dificuldades não façam vocês duvidar de todas as coisas que já alcançamos, como queremos viver, não deixem que façam vocês abandonarem nossos sonhos", disse Macri na quarta-feira, encorajado depois de reunir uma multidão no sábado em um evento no centro de Buenos Aires.

Fernández e Macri praticamente monopolizam este primeiro turno, para o qual 34 milhões de argentinos estão convocados. Os outros candidatos não somam 15% no total das intenções de voto, sendo o ex-ministro da Economia Roberto Lavagna o mais bem posicionado.

Nessas eleições, metade da Câmara dos Deputados e um terço do Senado também serão renovados, além de eleger o governador da província de Buenos Aires e o prefeito da capital.

Se as pesquisas estiverem erradas e nenhum dos candidatos exceder 45%, o novo governo será eleito em um segundo turno das eleições em 24 de novembro.

Outras eleições

Além da votação para presidente, os argentinos também vão renovar parte do Parlamento.

Além do voto para presidente, algumas províncias importantes também vão realizar eleições para governador neste domingo.

Na capital Buenos Aires, que é autônoma, o favorito é o candidato Horacio Larreta, do partido de Macri. Ele teve 46,33% dos votos nas prévias, e enfrenta o peronista Matías Lammens, que conseguiu 32,05% naquela votação.

Já no estado de mesmo nome (que não inclui a cidade), a perspectiva se inverte. Axel Kicillof, aliado de Cristina Kirchner, venceu a macrista Maria Eugenia Vidal por 52,51% contra 34,65%.

Não são todas as províncias que têm eleições neste momento –além de Buenos Aires, somente outros dois têm votações.

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Resultado até meia-noite

Os resultados devem começar a ser divulgados às 21h deste domingo, e a expectativa é que até meia-noite cerca de 90% da apuração esteja completa.

Nas prévias, a Justiça Eleitoral determinou que só se poderiam divulgar resultados quando houvesse ao menos 10% das urnas apuradas dos quatro maiores colégios eleitorais do país (a cidade de Buenos Aires e os estados de Buenos Aires, Córdoba e Santa Fé).

Também houve uma falha técnica nos sistemas, que, dizem as autoridades, foi resolvida.

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