Newsletter n.º 6 | 08 de maio 2020
|
|
O espelho e os sonhos são coisas semelhantes, é como
a imagem do homem diante de si próprio.
José Saramago, O evangelho segundo Jesus Cristo.
Talvez seja esta a lição mais irónica que poderemos tirar da quarentena: «não estamos sozinhos no planeta». A maior crise sanitária do nosso tempo permitiu-nos ver a globalização à lupa, com uma clareza assustadora: em quarentena, todos sabíamos que, do outro lado do mundo, havia pessoas a cumprir a mesma rotina condicionada que nós, vivendo o mesmo tempo.
Este efeito de espelho criado pela pandemia refletiu todas as nossas fragilidades enquanto seres humanos, mas foi também através dele que conseguimos lidar com o isolamento. Se é verdade que o medo «encolhe o espaço», como escreveu José Gil (Público, 15 de março), também é verdade que comunicar com o outro expande os nossos limites. É uma das regras mais básicas da decoração de interiores: os espelhos prolongam as linhas dos espaços pequenos, tornando-os maiores à nossa perceção. Quando nos mantemos unidos, o espaço não enche, alarga – a casa torna-se maior porque estamos juntos.
Agora que terminou o Estado de Emergência e podemos preparar lentamente a saída de casa, continuemos a usar o outro como o nosso espelho – sem esquecermos que o «outro» que contamina também somos nós, um híbrido simultaneamente recetor e refletor: temos máscara tanto para não sermos contaminados (sermos vítimas) como para não sermos contaminadores (fazermos vítimas). Se porventura não vivíamos já assim, é hora de passarmos a olhar para a vida como uma co-vida.
Só por uma via acompanhada poderemos saber quem somos, quem gostaríamos de ser e quem, de facto, seremos: hoje conhecemo-nos parcialmente, mas logo nos poderemos conhecer mesmo porque será em sociedade que nos daremos a conhecer.
|
|
Uma nova forma de visitar o museu
|
|
As reservas do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto estão repletas de objetos arqueológicos e etnográficos surpreendentes. O novo podcast Terras sem fim dá-nos a conhecer os contextos dessas peças: as pessoas, os gestos, as vivências e os significados que evidenciam.
O primeiro episódio leva-nos até ao grande Oceano Pacífico, mais especificamente à Papua Nova Guiné, para que possamos entender as cores vibrantes da arte Malangan ou o aspeto ameaçador das máscaras Iatmul da excecional coleção da Melanésia, incorporada na Universidade do Porto em 1927.
Parte desta coleção integra a exposição temporária Culturas e Geografias. Centenário da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (1919-2019) que, a partir de junho, poderá voltar a ser visitada no edifício histórico da Reitoria da U.Porto (entrada pelo Jardim da Cordoaria).
|
|
|
Escudo de proa de canoa do médio Sepik, Papua Nova Guiné
Grupo cultural Iatmul (MHNC-UP-025856)
|
|
Conheça os novos podcasts desta semana
|
|
A comunidade Casa Comum Online continua a crescer!
Estudantes, docentes, investigadores, colaboradores e alumni contribuem com os mais variados temas para aumentar a coleção de podcasts.
Consulte aqui os podcasts que estrearam na última semana.
|
|
|
Texto: “A Estátua”, de Judith Teixeira, “Quanto, quanto me queres?”, “Palácio de quartos alugados” e “Não sei porque não me dizes o dia do teu embarque”, de António Botto.
#10. Hipnopédia
Texto e Voz: Sofia Afonso
#11. Casa
Gravação de sons ambientais e observações: Orlando Gilberto-Castro
#12. Cartografias do silêncio
Texto: “Cartographies of the Silence”, excerto do livro “The Dream of a Common Language (Poems 1974-1977)”, de Adrienne Rich
|
|
As imagens surgem a uma velocidade mais lenta. Certos de que não voltaremos ao que éramos, esperamos a segunda vaga. A Vogue leva à capa a atriz Judi Dench, 85 anos, homenageando os que resistem ao COVID-19. É ou não tempo de esperança?
|
|
|
#3. Testemunhos 3
Levi Guerra, Professor Jubilado da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, ex-diretor do Hospital de S. João
Carlos Magno, jornalista (Expresso, Diário de Notícias, TSF, RDP, SIC, NTV), docente do ensino superior, ex-presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social.
Alexandre Quintanilha, Professor Jubilado do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto, investigador honorário do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, deputado à Assembleia da República.
|
|
Afinal, havia outro! Apesar do Cometa ATLAS se ter revelado uma desilusão, há outro que poderão tentar ver, a olho nu, durante as próximas semanas – o Cometa SWAN.
|
|
|
“A literatura tal como a conhecemos foi composta por homens, (…) foi uma experiência dedicada aos homens, pensada para os homens, pelos homens”. Quem o diz é Emerson Inácio, que deixa ainda algumas sugestões literárias para os mais curiosos: como desconstruir o corpo e redesenhar um novo.
|
|
Uma coleção com vista para o mar
|
|
O primeiro Dia Mundial da Língua Portuguesa, comemorado no dia 5 de maio, foi assinalado pela U.Porto Press com o anúncio de uma nova coleção: “Uma Língua com Vista para o Mar – Estudos de Língua Portuguesa”. Com o lançamento próximo da obra Línguas em Português – A Lusofonia numa Visão Crítica, a editora da Universidade do Porto dá o mote para a divulgação de estudos de qualidade e resultados de investigação sobre o português e o impacto do idioma à escala mundial.
Organizado pelos autores brasileiros Sweder Souza e Francisco Calvo del Olmo, o livro visa contribuir para os estudos, divulgação e ensino da língua em várias instâncias universitárias a nível internacional. Para isso, conta com colaborações dos quatro cantos do mundo. “Trata-se de uma obra com tantos capítulos quantos países e territórios em que o português é falado”, refere João Veloso, Pró-Reitor da Universidade do Porto para a Promoção da Língua Portuguesa e diretor da coleção.
Desde o Brasil a Timor-Leste, passando pela Guiné-Equatorial, Macau e ainda Galiza, os 20 investigadores que contribuíram para o livro refletem sobre as especificidades da Lusofonia. Os estudos e considerações são, como diz João Veloso, um “espelho da variedade de padrões e de formas de viver o português”.
Em 2020, por iniciativa da UNESCO, celebrou-se o Dia Mundial da Língua Portuguesa, numa altura em que existem mais de 240 milhões de falantes do idioma em todo o planeta. A par deste marco importante para a Lusofonia, o Pró-Reitor salienta que a nova coleção exclusiva da Universidade do Porto pretende vincar a importância da língua no “património cultural comum a diversos povos”.
|
|
|
|
|