Por Geovane Brito, G1 Santarém — Pará


Projeto 'Maleta Viajante' leva incentivo à leitura a crianças em aldeia no Pará

Projeto 'Maleta Viajante' leva incentivo à leitura a crianças em aldeia no Pará

Quão grande é a força de vontade um profissional da educação para levar conhecimento aos alunos? Isso não pode ser mensurado, ainda mais durante a pandemia de Covid-19 que mudou realidades que já não eram fácies. Em Santarém, no oeste do Pará, a diretora de uma escola na aldeia indígena Solimões do povo Kumaruara, na região do Tapajós, montou um projeto de incentivo ao hábito da leitura e percorre a casa dos alunos deixando livros (veja vídeo acima).

Com uma maleta rosa nas mãos recheada de conhecimento, Aurenice Costa Fernandes caminha e navega por várias horas para que os alunos tenham a oportunidade de viajar no mundo literário.

O projeto "Maleta Viajante" foi idealizado já na pandemia, em 2020, quando os mais de 60 alunos do ensino fundamental não puderam mais retornar às aulas presenciais na Escola Indígena Nossa Senhora das Graças devido ao perigo de contágio da Covid-19.

Aurenice é nascida na Aldeia Solimões e voltou à comunidade para lecionar para crianças — Foto: Aurenice Fernandes/Arquivo Pessoal

Leitura quebra barreiras

Faça sol ou faça chuva, seja pelo rio ou pela estrada, a diretora que também cumpre o papel de pedagoga não deixa os alunos desamparados. Ela fez o mapeamento das casas e a cada semana leva a maleta a uma nova família.

Logo nas primeiras visitas Aurenice percebeu que as famílias dos alunos também poderiam se envolver no mundo mágico da leitura. "Eles começaram a participar. Eu sair com essa 'maleta viajante' surgiu de uma ideia bem louca. Chego na casa da criança e deixo a maleta por cinco dias para eles lerem. No sexto, volto e vou trabalhar a leitura", explicou.

A socialização com os livros têm ajudado no desenvolvimento textual escrito e falado, além de dar oportunidades para a família dinamizar o conhecimento.

"Em meio a pandemia eu tive essa necessidade de fazer o projeto porque eu via as crianças muito dispersas. Eu não queria deixar isso passar em branco, visto que as crianças foram afastadas da escola. Eu quis me aproximar", disse.

Onde as casas são mais próximas à escola a entrega da maleta é feita pela estrada, com a professora caminhando. Já em outras localidades, onde o acesso é mais difícil, Aurenice vai de "bajara" (canoa motorizada).

Projeto também ajudou as famílias acompanharem a vida escolar dos filhos — Foto: Aurenice Fernandes/Arquivo Pessoal

De volta para casa

Nascida na aldeia Solimões, a diretora sonhava desde de criança em ser professora. Ela cresceu e foi para a cidade fazer faculdade. Ao se formar, a professora voltar para a comunidade e começou a lecionar.

"Tudo o que eu passei com necessidade de ler bons livros e de ter um conhecimento melhor, eu não queria que acontecesse com as nossas crianças", contou.

Para a diretora, a cada entrega a esperança de estar nutrido nas crianças o desejo pelo conhecimento. Os alunos a esperam na porta de casa com olhar de admiração e curiosidade, porque sabem que dentro da maleta há novos mundos aos quais são ser apresentados.

Histórias e certezas

Cerca de 60 alunos são atendidos pelo projeto 'Maleta Viajante' da diretora Aurenice Fernandes — Foto: Aurenice Fernandes/Arquivo Pessoal

A diretora iniciou as visitas e a primeira família contemplada foi de uma criança de 4 anos. "Ela estava toda curiosa para saber o que tinha na caixa. Eu mostrei o livro e ela escolheu um livro maravilhoso chamado 'A Travessia de Marina'. Quando eu voltei, ela me contou toda a história do livro e eu tive a certeza que estava no caminho certo. Foi o momento mais marcante da minha vida", enfatizou.

Foi com base nos relatos ouvidos ao longo do último que a diretora tem a certeza que a educação pode mudar realidades, construir pontes do saber e fazer viajar pelo mundo crianças que nunca saíram do lugar onde moram.

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