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A recuperação esperada para a economia brasileira em 2013 deve vir acompanhada da melhora de humor para a bolsa. As estimativas para o mercado, segundo especialistas ouvidos pela ValorInveste, apontam para valorização de pelo menos 15% do Ibovespa. Em 2011, a expectativa também era de alta para o índice. No acumulado de 2012 até novembro, no entanto, o principal indicador da bolsa girava entre 56 mil e 57 mil pontos, mesmo patamar visto 12 meses antes. A diferença é que ganha cada vez mais força no mercado a visão de que não é o principal índice da bolsa que guarda o maior potencial de ganho, nem necessariamente as empresas que fazem parte dele.

Olhar apenas para o Ibovespa é coisa do passado, ou ao menos deveria ser assim para os investidores mais perspicazes, diz Marcelo Karvelis, sócio da Claritas Investimentos. Muitos gestores não fazem nem mesmo projeções para o indicador – ou para qualquer outro referencial de ações da bolsa.

“Recomendamos fundos com liberdade para montar carteira sem seguir índice; ações de ciclo doméstico e de empresas que vão gerar fluxo de caixa para distribuir dividendos”, diz Marcelo Karvelis, sócio da Claritas Investimentos — Foto: Valor
“Recomendamos fundos com liberdade para montar carteira sem seguir índice; ações de ciclo doméstico e de empresas que vão gerar fluxo de caixa para distribuir dividendos”, diz Marcelo Karvelis, sócio da Claritas Investimentos — Foto: Valor

Como promessa para 2013, portanto, o investidor deveria se propor a ter um olhar amplo e desprovido de qualquer preconceito, afirma Jorge Oliveira, gestor e chefe da área de renda variável do JP Morgan Asset Brasil. Ele deve considerar papéis de menor ou maior valor de mercado, desde que ofereçam um retorno sobre o patrimônio líquido acima da média e sustentável. “Não dá para se prender ao Ibovespa, uma vez que o indicador é construído com base na liquidez em bolsa”, diz Oliveira.

O índice tem uma exposição grande a companhias ligadas ao setor de commodities, sensíveis ao baixo crescimento global. E também a grandes empresas com controle ou forte participação estatal, que passaram a ser olhadas com mais desconfiança pelo mercado diante do maior ativismo do governo na economia. São dois universos de ações que têm sofrido, mas que também não devem ser descartados de imediato, pois, segundo parte dos analistas ouvidos, podem surgir como apostas pontuais para 2013.

Para Will Landers, diretor de gestão de ações para a América Latina da BlackRock, o mercado brasileiro segue barato, sendo negociado a um P/L (relação entre o preço e o lucro da ação) de pelo menos dez vezes na projeção para 2013. “A pergunta é se este múltiplo é verdadeiro e se as companhias brasileiras na bolsa vão entregar a expectativa de crescer resultados acima de 15% no período”, diz. “Temos que ficar atentos também ao nível de interferência governamental em setores privados e na capacidade de o Brasil voltar a crescer sem grandes impactos inflacionários, dado o fato de que o emprego não sofreu durante este período de crescimento baixo.”

O interessante é que, em termos de oportunidades na bolsa, as promessas para 2013 dão uma sensação de algo já visto, prevalecendo a tese de privilegiar empresas cujas receitas vêm da economia local, como as do setor de consumo. Ainda que a perspectiva seja de crescimento econômico mais próximo de 3%, a demanda continuará aumentando de maneira consistente, puxada por um mercado de trabalho pujante e aumento de massa salarial.

“Mas é preciso ser criterioso, pois alguns papéis já andaram muito”, diz Marcelo Mello, vice-presidente da SulAmérica Investimentos. Com um índice P/L na casa de 20 vezes, o varejo não pode ser considerado uma barganha, emenda Marcos De Callis, diretor de investimentos da Schroders Brasil. Mas, com as projeções apontando para um incremento de lucros de 20%, diz ele, faz sentido pagar esse múltiplo no ambiente de juro baixo.

“Preferimos esquecer índices e olhar empresas com retorno sobre patrimônio sustentável, acima da média, e setores de bens de capital, bancos e consumo”, diz Jorge Oliveira, responsável pela área de renda variável do JP Morgan — Foto: Divulgação
“Preferimos esquecer índices e olhar empresas com retorno sobre patrimônio sustentável, acima da média, e setores de bens de capital, bancos e consumo”, diz Jorge Oliveira, responsável pela área de renda variável do JP Morgan — Foto: Divulgação

Oliveira, do JP Morgan, é outro que acredita no setor de consumo, apesar dos preços altos. “Essas empresas são caras, vão continuar caras, mas, como os lucros crescem em velocidade relativamente igual ou superior aos preços, acabam tendo um desempenho bom, acima do mercado”, afirma o especialista. Isso vale especialmente para companhias de consumo tradicional, como Arezzo, Renner e Lojas Americanas. O segmento de shopping, pondera, já subiu muito e, assim, não tem mais um horizonte tão atraente.

“O perfil do retorno para os negócios ligados ao consumo sinaliza maior apelo. O dilema, entretanto, é o ‘valuation’ das empresas”, diz Alec Kersman, principal executivo da Pimco para América Latina e Caribe — Foto: Valor
“O perfil do retorno para os negócios ligados ao consumo sinaliza maior apelo. O dilema, entretanto, é o ‘valuation’ das empresas”, diz Alec Kersman, principal executivo da Pimco para América Latina e Caribe — Foto: Valor

Assim como Oliveira, Alec Kersman, principal executivo da Pimco para América Latina e Caribe, afirma que as empresas voltadas para o consumo doméstico estão entre as mais atrativas. “O perfil do retorno para os negócios ligados ao consumo sinaliza maior apelo. O dilema, entretanto, é o ‘valuation’ das empresas”, afirma. “[As companhias voltadas para o] consumo básico negociam a múltiplos elevados, na comparação com o universo do mercado emergente. Contudo, se o crescimento econômico se acelerar, esse setor pode se transformar em um bom lugar para procurar oportunidades.” Kersman chegou em julho ao Brasil para montar, no Rio de Janeiro, o escritório da Pimco, empresa do grupo Allianz com US$ 1,92 trilhão de recursos sob gestão.

Um dos filtros que o investidor deve levar em conta na hora de avaliar o setor de consumo, na visão de Mario Campos, sócio da Vinci Partners responsável pela área de renda variável, é a capacidade que as empresas têm de oferecer retornos acima da inflação. Isso acontece quando a companhia consegue repassar aumento de preços, casos de Ambev, Souza Cruz, Natura e Lojas Americanas. “Trata-se de um setor atraente, mas as posições devem ser menores que em 2012.”

João Scandiuzzi, estrategista-chefe da área de asset management do BTG Pactual: “Nosso foco está em temas de consumo doméstico, educação e infraestrutura” — Foto: Valor
João Scandiuzzi, estrategista-chefe da área de asset management do BTG Pactual: “Nosso foco está em temas de consumo doméstico, educação e infraestrutura” — Foto: Valor

João Scandiuzzi, estrategista-chefe da área de asset management do BTG Pactual, destaca os segmentos de varejo, educação e infraestrutura – todos ligados à economia doméstica. Na avaliação do executivo, papéis como os da Renner são atrativos em razão do estágio adiantado de investimentos e do ritmo de aberturas de novas lojas. Em educação, em que destaca a Anhanguera, o crédito estudantil abre as portas do setor à nova classe média brasileira, com a vantagem de o risco de crédito do financiamento ser do próprio governo. Já com relação à infraestrutura, a percepção é que é um setor com potencial de retornos muito elevados, dada a carência do país. “Aí é olhar empresas experientes e com boa posição financeira, capazes de entrar mais fortemente nos novos projetos, como a EcoRodovias”, afirma. 

Apostas menos triviais em consumo doméstico, como nos setores financeiro e de construção civil – considerados relativamente baratos –, também estão entre as recomendações de gestores ouvidos pela ValorInveste. “Bancos vão ter um bom desempenho, ancorados na melhora dos indicadores de inadimplência”, diz Rogério Xavier, sócio da SPX Capital. O retorno sobre o patrimônio líquido não será mais de 25%, mas de 16%, 17%, o que ainda está acima da média de mercado, completa Oliveira, do JP Morgan.

Marcos De Callis, diretor de investimentos da Schroders Brasil: “Sugerimos setores como varejo, bancos, construção e bens de capital, e também o de commodities, para pegar a recuperação chinesa. E fundos de ações que apliquem também em outros países emergentes” — Foto: Valor
Marcos De Callis, diretor de investimentos da Schroders Brasil: “Sugerimos setores como varejo, bancos, construção e bens de capital, e também o de commodities, para pegar a recuperação chinesa. E fundos de ações que apliquem também em outros países emergentes” — Foto: Valor

Para as construtoras, destaca De Callis, da Schroders, o ambiente macroeconômico é bastante positivo, com incentivos do governo e elevação dos financiamentos imobiliários. Para ele, o problema do setor é micro, derivado de empresas que se apoiaram em projetos de lançamentos além da capacidade. “As companhias que não ouviram o canto da sereia, as menores, estão bem.”

Um setor que promete para 2013 e que ficou barato, na visão de Oliveira, do JP Morgan, é o de bens de capital, mais especificamente as companhias de autopeças. “O segmento sofreu muito em 2012, em linha com a indústria. Se de fato houver uma combinação de crescimento um pouco melhor com o câmbio mais desvalorizado, o cenário para as empresas de bens de capital será excelente”, diz. Indústrias que se beneficiam com o dólar mais forte são também uma aposta da SPX.

Há até mesmo quem coloque o ramo de commodities, que sofre desde 2008, entre os que têm o maior potencial de ganho em 2013, ancorado na melhora, ainda que modesta, do cenário global. É o caso de De Callis, da Schroders. Para ele, a fim de capturar o crescimento econômico, a melhor alternativa é investir em bolsas de países emergentes – há fundos internacionais para isso –, que são concentradas em commodities. Ele tem dúvidas, porém, se o mercado brasileiro conseguirá acompanhar a onda, por conta do ativismo do governo – Petrobras, na sua avaliação, é uma empresa que deve continuar derrapando. Mas sugere ter uma exposição ao Ibovespa ou ao IBrX, de cerca de 5%, para o caso de haver uma recuperação.

De todo modo, De Callis é um dos poucos que se mostram mais otimistas com o Ibovespa, para o qual projeta 71,5 mil pontos no fim de 2013, com base não só na melhora dos resultados das empresas, mas na menor aversão ao risco por parte do investidor. O cálculo considera um crescimento médio de lucro para as empresas de 14% em 2013, além de uma expansão de 10% do múltiplo P/L, na esteira da melhora das expectativas de crescimento econômico global.

Apesar dos retornos razoáveis proporcionados pela estratégia de dividendos no último ano, ela continua entre as recomendações por conta do juro baixo. Márcio Simas, diretor da Icatu Vanguarda, aprecia as empresas que pagam bons dividendos aos acionistas, especialmente as que o fazem de maneira consistente. “Os proventos pagos pelo Bradesco nem são tão altos, mas ele paga religiosamente.”

Embora o segmento de energia elétrica tenha sido chamuscado pela polêmica que envolve a renovação das concessões de usinas, os especialistas ainda enxergam oportunidades. “Mesmo entre as elétricas ainda existem empresas boas pagadoras de dividendos”, diz Carlos Massaru Takahashi, presidente da BB DTVM. Segundo ele, pode ser uma opção oportuna para carteiras de longo prazo.

Diante do primeiro ano com o juro em um nível historicamente mais baixo, sem que o Ibovespa tenha reagido à altura, a lição que fica é basicamente uma só: alocar recursos escolhendo confortavelmente um índice são águas passadas. E as próximas páginas dirão que isto não vale apenas para a renda variável. (Colaborou Karla Spotorno)

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ValorInveste: Quatro perguntas para Mark Mobius e Mohamed El-Erian

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