Vencedor do Concurso Salim Miguel mistura história grande e miúda em romance

17/05/2011 18:34

Dez anos depois de publicar seu primeiro livro de poesias pela EdUFSC, Alckmar Luiz dos Santos recebe prêmio por romance das mãos do veterano Salim Miguel


Em uma cerimônia marcada pelo encontro entre velhos e novos escritores catarinenses, a Secretaria de Cultura e Arte e a Editora da Universidade Federal de Santa Catarina divulgaram na segunda-feira à noite o resultado do concurso Salim Miguel de Romance. Ao que minha vida veio, terceiro romance do poeta, contista, ensaísta, escritor, pesquisador e professor de literatura da UFSC Alckmar Santos, foi o vencedor. Das mãos do homenageado, o laureado Salim Miguel, de 87 anos, Alckmar, 52 anos, recebeu o primeiro cumprimento pela vitória, que agradeceu com uma mensagem literária de Michel Montaigne: “Um leitor competente com frequência descobre nos escritos dos outros belezas e perfeições que eles mesmos não colocaram ou de que não eram conscientes”.

Mantido em sigilo absoluto até o instante da solenidade, o resultado foi divulgado pelo presidente da comissão julgadora, o professor de Literatura Carlos Eduardo Capella, que é também presidente do Conselho Editorial da EdUFSC e entregou para Salim Miguel o envelope  – aberto pelo escritor – onde constava apenas o nome da narrativa vencedora. Escolhido por unanimidade pelo júri formado pelos teóricos da literatura e professores Donaldo Schüller e Ana Luíza de Andrade, além do tradutor e ensaísta Marcelo Tápia, Alckmar concorreu entre outros 25 romances, entre eles autores já consagrados em Santa Catarina.

O romancista eleito foi saudado pelo reitor Alvaro Prata, que perdeu o pai no final de semana mas fez questão de prestigiar o evento, o vice-reitor Carlos Alberto Justus, a pró-reitora de Cultura e Arte Maria de Lourdes Borges, o diretor da Editora da UFSC Sérgio Medeiros e uma torcida de alunos seus integrantes do Núcleo de Pesquisa em Informática, Linguística e Literatura (Nupill), do qual é fundador e coordenador. No ano passado o Nupill comemorou 15 anos como o maior banco virtual de textos literários do Brasil. Ao cumprimentá-lo, Salim, revelou que também sua carreira foi impulsionada por um prêmio literário.

Apesar – ou além – da primeira formação em engenharia eletrônica pela Unicamp, em 1983, Alckmar Luiz dos Santos sempre atuou no campo das artes e da literatura. Mestre em Teoria Literária na Unicamp, é doutor em Etudes Littéraires, com orientação de Julia Kristeva, em Paris. Realizou um trabalho com Gilbertto Prado de poesia visual, com quem recebeu uma *Menção especial*, em 2000, no 7º Premio Nacional de Poesía Visual Joan Brossa. Em 2006, também na Espanha, num trabalho em equipe, coordenado por Francisco Marinho, ganhou o prêmio 2º Internacional “Ciutat de Vinaròs” de Literatura Digital na categoria de poesia digital, com a obra Palavrador.

Em poesia, publicou Retrato e percurso, pela EdUFSC; Meu tipo inesquecível, pela Editora Athanor; o poema digital publicado pelo Itaú Cultural intitulado Dos desconcertos da vida, filosoficamente considerada. É Autor de Rios imprestáveis, obra que lhe rendeu a premiação na categoria poesia do 1º Prêmio Redescoberta da Literatura Brasileira, da Revista Cult, que teve como júri o os poetas Cláudio Willer, Wally Salomão e Nelson Ascher, e de Circenses, publicado pela Sete Letras.  Inaugurou-se na prosa com o romance São Lourenço, publicado pela editora digital RBL. Escreveu também o volume de ensaios intitulado Leituras de nós; Ciberespaço e literatura, publicado pelo Itaú Cultural, e foi co-organizador da obra Caminhos cruzados; Informática e Literatura, publicado pela EDUFSC em 2005. Como organizador publicou ainda Lugares textuais do romance, resultado de colóquio que inaugurou o primeiro ano do doutorado em Literatura da UFSC, em 1997. Nascido em Silveiras, no interior de São Paulo, Alckmar fala nesta entrevista como misturou memórias que compõem o que chama de sua “vida miúda”, como o testemunho do suicídio de um garoto de 17 anos e as histórias do avô, com fatos históricos que perfazem a “vida grande”, como a Segunda Guerra Mundial, cruzando as linhas da vida nas linhas da literatura.

Entrevista

1. Fale um pouco sobre o enredo, temática ou proposta do romance Ao que minha vida veio:

Meu primeiro romance, São Lourenço (cidade de Minas Gerais) nasceu de uma frase que eu me disse: “Se eu pudesse, eu voltaria a São Lourenço”. Inventei um personagem; para isso, inspirei-me um pouco na música de João Bosco, “As vitrines”, e comecei. Ao que minha vida veio nasceu há dois anos de um fato muito estranho: eu estava em BH na casa de um amigo e ouvi um estrondo. Era um adolescente que tinha se jogado no vão do 12º andar. A primeira cena do livro descreve a imagem do corpo caindo de uma pessoa. A partir dessa cena inicial, comecei a pensar na minha história e na história da minha região. O ritmo desse romance, o vocabulário, as imagens, tem tudo a ver com Silveiras, minha cidade natal que aparece na narrativa. Ao escrever, procurei reencontrar minha mãe terra e o meu pai país natal, em uma metonímia da própria história vivida no romance por um personagem-narrador que empreende uma saga para reconstruir sua história e descobrir quem é seu pai e sua mãe, porque sabe que escondem isso dele. Em meio à ficção enredei conhecimentos de alquimia que estudei quando fiz minha dissertação de mestrado sobre Guimarães Rosa. A alquimia está já no jogo com o nome do romance e inclusive por trás dessa ideia do deus limitado, que cria o mundo, mas não sabe o que vai fazer dele, numa espécie de magia limitada. O protagonista é, então, alguém que tem uma capacidade mágica de saber quase tudo dos outros, mas não nada de si mesmo. Junto à tentativa do narrador de reconstrução de sua história pessoal, há o esforço de reconstrução de fatos da história do Brasil, de modo que os eventos individuais se entrelaçam com os eventos históricos e gerais. Por exemplo, há uma passagem do cometa Halley, contada pelo meu avô, que ficou muito espantado ao ver voar aquela bolona com rabo no céu. É um evento individual, mas se emaranha a casos importantes para a minha região, como a revolução de 1932, quanto trago a cena dos aviões cariocas das forças federais, que bombardeavam Silveiras e eram chamados de vermelhinhos pelos habitantes. É historia que ouço ainda hoje de minha mãe. Ninguém conhecia avião, mas todos sabiam que dele se jogavam bombas. A história perpassa a segunda guerra mundial, quando o personagem desiludido, vai, como voluntário da FEB, lutar na Itália e usa imagens que tenho de memória desde criança, de ouvir sobre pessoas que perderam amigos na guerra ou de jovens que regressaram loucos.  O romance passa pelo  suicídio de Getúlio, em 54 e segue sempre cruzando a história miúda com a história grande, que é uma forma de dizer que uma é tão importante quanto a outra.

2. Há  no romance algo da sua experiência com cibercultura ou com a linguagem hipertextual?

A narrativa dá  muito salto, vai e volta, temporalmente falando. Utilizo um único recurso tecnológico, para borrar a leitura de uma frase enigmática que o personagem lê. Ao lê-la, ele está emocionado, chora e as lágrimas borram a tinta. Pra simular esse efeito sobre o papel, escrevi a frase no fotoshop e fiz o efeito de água turvando essa imagem, de modo que o leitor não consegue ler, a menos que tenha conhecimento de magia e de alquimia e possa mais ou menos adivinhar. De fato, o narrador está escrevendo e chorando em cima dessas letras tempo todo, é uma constante ao longo de toda a narrativa. Ao lado desses recursos, fiz uma pesquisa danada, inclusive “de campo”. Empreendi uma viagem a essa região de Minas Gerais e São Paulo, pelo Google Maps, atrás do personagem e do contexto onde ele viveu, examinando estradinhas, nomes dos bairros, de cidades, para nominar tudo com exatidão. E também fiz uma pesquisa histórica para poder descrever a parte em que ele vai para a Segunda Guerra. Fiz questão de descobri o nome do navio que levou os pracinhas para a Itália, bem como as cidades por onde passaram, onde combateram e outros elementos históricos que aparecem no romance.

3. Por que você  preferiu o formato tradicional para este seu romance?

A grande bobagem dos entusiastas das novidades tecnológicas é achar que estamos inventando um mundo novo a partir do nada; e a grande bobagem dos catastrofistas é achar que há um passado glorioso que não pode ser tocado (aquele sujeito que diz adorar cheiro de bolor dos sebos). O fato é que a cultura envelhece como a gente envelhece. Eu tenho todas as idades que eu já tive. Todas estão comigo, não abro mão de nenhum dia dos meus 52 anos de vida. A cultura tem que ser assim também: não podemos abrir mão de um grama da cultura dos assírios, babilônios, jônios, sumérios, mesopotâmicos, gregos, romanos, bizantinos, galego-portugueses etc. Abrir mão disso é abrir mão da humanidade. Para sermos contemporâneos, não podemos esquecer os passos anteriores da humanidade. Uma atual etapa da tecnologia incorpora todas as outras. É assim que, como disse, acho, a Fernanda Montenegro, cada ruga é uma medalha que eu ganhei na minha vida. Não quero  jogar fora. Da mesma forma, cada momento cultural da civilização é precioso. Agora estou estudando trovadorismo pra orientar a dissertação de um aluno, lendo coisas sobre Idade Média, filologia do latim ao português. E é claro que, mesmo indiretamente, isso pode ajudar na criação digital: se pensarmos, por exemplo, que Bacon, ao pintar um papa também pintado por Velásquez, mostra como este pode ser contemporâneo. O novo necessariamente incorpora o antigo, senão, não é novo, é só gaiatice.

4. Mas seu primeiro romance foi publicado em meio digital…

Sim, por uma editora de livros digitais, a RBL, do Luís Filipe Ribeiro, do Rio de Janeiro; mas foi em PDF. Não visava especificamente o meio eletrônico, mas, se coloco uma escrita verbal tradicional (que não tem porque ser jogada fora) na internet, posso usar vantagens das duas maneiras de publicar.

5. Diz-se que dificilmente um autor se desenvolve plenamente em gêneros distintos. No seu caso, você faz poesia e prosa. Como é conciliar isso?

O que faço no romance não é radicalmente distinto do que faço em poesia, nem pode ser. Escrevendo romance trabalho muito ritmo e uso artifícios da poesia. Tento pegar um ritmo de frase quando estou escrevendo e isso é tão importante quanto a história. Claro!, na minha poesia é um ritmo mais construído, mais de pedreiro que vai medindo, pesando, arquitetando. Na prosa, vai mais do modo como eu quero que seja ouvido aquilo que penso, é, digamos, uma fluidez com mais percalços, como rio cujo fluxo se agita com pedra no meio dele.  Quando escrevo romance, não planejo totalmente a história; nos poemas eu sempre penso na totalidade da obra, seja digital, seja em papel. Claro que muita coisa vai mudando. Nos três romances, eu saía navegando e não tinha ideia certa de aonde chegar. De um lado, gosto de brincar de me sentir um deus, de criar um universo, pessoas, relações entre elas, acontecimentos de toda ordem, mas começo com uma imagem, uma frase, daí associo um assunto e um problema de vida humana, mas não sei aonde vai acabar. O romancista constroi o mundo que ele quer com as relações que deseja. Porém, ignorando onde se vai chegar, ele fica como um deus muito mais grego que cristão, mais humano; assim, a gente fica mais próximo das pessoas, como as que se criam na narrativa.

6. O que significa ganhar o premio Salim Miguel Romance da sua universidade?

Gosto muito do Salim como intelectual. Não é qualquer um que ganha o Juca Pato. Aqui, como Silveiras, eu conheço muito bem, há certo provincianismo que impede de ver quem está de perto. Quando estive na mostra Cem anos de Pintura brasileira, no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, vi cinco quadros do Martinho de Haro e dois do Rodrigo de Haro. No entanto, aqui ninguém registrou esse fato. Vejo pessoas falarem do Salim lá fora, mas não o vejo receber o mesmo destaque aqui. Li Nur na escuridão e gostei muito. Então, ganhar um prêmio com o nome dele foi muita alegria e um estímulo. De outro lado, eu já fiz parte de júri de concurso e todos eles têm um pouco de lotérico. Este romance, por exemplo, já havia submetido a um ou dois concursos e deu em nada. Outra coisa: queria deixar registrado que o pseudônimo Nacer Adjas homenageia o nome de um grande amigo cabil (etnia argelina), um fotógrafo talentoso, sensível, que falava árabe, francês, português, foi casado com uma brasileira, era amante e profundo conhecedor do futebol brasileiro… acima de tudo, um artista sensível e um ser humano magnífico; ele morreu há 11 anos, de um câncer fulminante, pouco antes de que eu chegasse a Paris para visitá-lo com goiabada de presente e tudo. Ele faz falta não só a mim, mas a todas as pessoas.

7. Você  acumula várias funções: professor, pesquisador, coordenador do Nupill. Como você encontra espaço e concentração para escrever romance e poesia? Como é seu processo de criação?

Você se esqueceu de dizer aí que não abro mão de cultivar o ócio, ver jogo de futebol… Como eu disse na divulgação do resultado, não é que eu tenho que escrever. O fato é que eu não conseguiria não escrever. É essencial para mim. É verdade que eu tenho um ritmo muito rápido. Acho que tenho um problema neurológico, congênito, faço tudo rápido demais. Sempre fui expulso de roda de samba em mesa de botequim porque adianto o canto, não consigo batucar e cantar ao mesmo tempo, tenho um ritmo rápido demais e descontrolado. E estou sempre querendo concluir uma obra para começar a próxima. O que eu procuro fazer é me organizar, fazer agenda e delegar competências. Planejando bem o tempo, a gente consegue fazer tudo, ou quase tudo. Na criação, percebo ou provoco o impulso inicial de escrever, planejo a realização dessa escrita e fico de modo disciplinado seguindo o esquema que faço.

8. Você  tem outras obras em andamento?

Tenho seis obras concluídas. A atual, ainda sendo escrita, eu chamo de romance, mas é feita de versos rigorosamente medidos, com ritmo mais modulado em que os versos variam de tamanho, de melodia. É, na verdade, um poema narrativo, em seis episódios. O personagem está velho e a família espera que morra pra pegar a herança. Então ele tenta recuperar os anos e voltar ao começo da vida. E aí a história é uma tentativa desse personagem de recontar sua história para mudá-la. Também estou procurando um programador para concluir outra obra,Máquina de escancarar janelas: são poemas verbais acompanharão um dispositivo que bolei para o Windows, para gerar interferências dos poemas (sempre curtos) na leitura dos usuários, de modo a se mesclar ao que o leitor está lendo. Uma parte são hai kais alegres, como: “Copacabana: / a lua tricota a chuva / e brota um ikebana” e há parte mais dolorosas, em que falo da morte do meu pai.  Tenho ainda um livro de poemas digitais para ser lido em HTML que chamo de Pequeno jornal das notícias diárias desimportantes. Está pronto, falta acabar pouca coisa da programação. Mas minha decisão é colocar tudo que produzi em um sítio (site) na internet, que é o meio que garante muito mais a circulação e a leitura, do que o circuito da literatura em papel.

Entrevista a Raquel Wandelli/ Assessora de comunicação da Secretaria de Cultura e Arte da UFSC


Trecho inicial do romance Ao que minha vida veio,
de Alckmar Luiz dos Santos

Bem lá  do alto

Tio Eli… deixou um bilhete: Viva o amor.

E pulou do ponto mais alto a que pôde chegar da sapucaieira maior das três que por lá  havia. Depois de ter dado e feito, durante a subida, seus dois ou três escorregões no limo verde-encardido dos galhos, que quase anteciparam sua queda no encurtando a altura do salto e dando um esticado assim na vida sua dele ainda por mais um tempo — que daí teria caído ele, Tio, de altura nada de coisa nenhuma condizente com tragédias e gestos desse jaez —. E foi assim que, sem mais escorregar nada não e com bem menos de dificuldade, ele apegou-se um só instantinho àquele e último galho, antes de se despenhar de lá de cima e chegar no ao-chão a bordo de um baque seco cheio de ecos. Que tapa dado em cara de filho e queda de suicida nunca param de ecoar. Ficam atroando ainda depois de terem silenciado as carpideiras todas, e desaparecido tudo quanto é soluço fingido e não, e mesmo sumidos de-vez de-feita os últimos estrídulos da marcha fúnebre tocada que era sempre pela Corporação Musical Mamede de Campos, que acompanhava todo enterro de escol tido e havido por lá.

De meu Tio e de sua queda, atestei que ele se havia despenhado da sapucaieira sem mais palavras dizer e deixar do que aquele curto estrito bilhete, mas estaria incorrendo em erro e omissão, grossos, pois que nada! de ele ter pulado de pirambeira de morro nem de pedra coisa alguma!, mas de árvore, sim! E além de tudo o mais, o curto bilhete, esse, não foi a única coisa que disse e se disse a respeito desses eventos todos, como se verá com o tempo e com ainda a zelosa paciência de se ir descascando as camadas todas de gentes e de histórias que habitam esses miúdos gestos com que vamos no-sempre nos rascunhando, desde o quando em que nascemos. E se alguns por aqui já se perguntam Por quê?!, e outros acrescentam Como?!, e ainda alguns atrevem um De que jeito?!, o máximo que se pode então e bem dizer é que toda pergunta só ensina muito depois de ser esquecida, mesmo porque o futuro só dá resposta ao que parece nunca ter sido perguntado!

Tirantes os nadas outros minguados sem importância, o máximo que se pode afirmar é que era no ano de 1932, informação com que ninguém daria no tal e dito bilhete Viva o Amor!, pois que ele não trazia data nem hora, nem local nem circunstâncias nenhumas. Exíguo de meios e de maneiras como era e foi, econômico no cerne seu, mas sempre muito de eloqüente nas molduras, meu Tio parece ter decidido que, daí em diante, as pessoas perceberiam sim que bilhete de suicida é de todo tempo e lugar; que, no aliás, bilhete de suicida sempre inaugura nova época e inédito local, refunda o mundo inteiro todo em cima de alguma lacuna, bigue-bangue ao revés que é, e que tal gênero de missiva não precisa e nem deve de ter aparência de ofício encaminhado a alguma repartição coisa-nenhuma. Corria então o ano de 1932, colorido e agitado pelos céleres aeroplanos do governo, federal, que, de quando em vez, traçavam linhazinhas vermelhas e barulhentas no azul ligeiramente algodoal do céu — como ocorre habitualmente nos maios, em Silveiras — e punham em polvorosa completa a molecada, pouco usual que era e ainda estava a algazarras de máquinas, a estrépitos de hélices, e ainda menos afeita a velocidades tão rápidas.

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