Setor Automotivo

5 impactos da inteligência artificial para profissionais do setor automotivo

Nos próximos dois anos, solução será adotada cada vez mais rápido, com impacto em empresas, setores e, claro, pessoas

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Giovanna Riato
  • 02/04/2024 - 08:04
  • 4 minutos de leitura
    
             A inteligência artificial vai acelerar rápido, mas ainda não está pronta. Prova de que há espaço para melhorar são as imprecisões desta imagem, gerada por meio de uma ferramenta de IA com o objetivo de mostrar a colaboração entre pessoas e robôs em fábricas automotivas no futuro.

    Da lista de termos que entraram de vez para o mundo dos negócios, inteligência artificial (IA) é o que mais se destaca nos últimos tempos. E a tendência vai se consolidar, com impactos relevantes no setor automotivo. “Vivemos um superciclo de mudança tecnológica. A onda de inovação que está por vir é tão intensa que vai redefinir a existência humana. Depois que essa transição terminar, seremos uma sociedade totalmente diferente.”

    O alerta foi dado fundadora e CEO do Future Today Institute, durante o South by Southwest (SXSW), evento realizado na cidade texana de Austin, nos Estados Unidos. E claro que, nesse processo, empregos, indústrias, relações com consumidores e tantos outros aspectos tão presentes no dia a dia automotivo sofrerão grandes impactos.


    - Leia mais sobre o SXSW aqui


    Segundo ela, há três evoluções concomitantes que tornam a atual transição tecnológica tão decisiva: biotecnologia, inteligência artificial e ecossistemas conectados que ligam coisas à biotecnologia (habilitados por IA).

    Entre os exemplos estão o que a futurista chamou de computadores faciais, como o Apple Vision Pro. Esse tipo de dispositivo tende a ficar mais barato e a ganhar muito espaço no dia a dia das pessoas. Com isso, pela primeira vez a inteligência artificial passará a ser alimentada não pelo que os humanos decidem colocar on-line, mas também pelos nossos sentimentos e sensações.

    “O Vision Pro, por exemplo, tem 14 câmeras e muitos sensores. Computadores faciais foram desenhados para ler a intenção das pessoas. Quando você quer algo, a temperatura do seu corpo muda, a pupila dilata. Assim, esses gadgets equipados com inteligência artificial saberão dos nossos sentimentos antes mesmo que a gente se dê conta deles”, conta.

    A seguir, elencamos cinco fatos sobre inteligência artificial para os quais toda liderança do setor automotivo deveria se atentar.

    1-    Há mais dúvidas do que certezas

    A inteligência artificial será tecnologia onipresente nos próximos dois anos. Mas há pouca certeza sobre como esse processo vai acontecer. Uma das grandes preocupações é ética, afinal, se humanos passam por treinamentos para entender limites morais, a tecnologia deveria enfrentar o mesmo processo. 

    “Não há quem responsabilizar se algo de errado ocorrer. As plataformas que criam a tecnologia vão sempre se isentar”, diz Amy. Ela cita o exemplo de uma inteligência artificial que tentou comprar ações de uma empresa de forma ilegal e fala da possibilidade de que esses sistemas inventem deep fakes, fatos falsos capazes gerar conflitos sociais e políticos.


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    O head do Chat GPT, Peter Deng, participou do SXSW e, questionado sobre o tema, confirmou que a futurista disse sobre a tentativa de isenção das plataformas. “Precisamos desenvolver esse controle ético juntos”, tentando dividir a responsabilidade com o usuário e, claro, com os legisladores.

    No caso do setor automotivo, o tema é ainda mais sensível, já que ter uma inteligência artificial capaz de tomar decisões sobre a condução de um carro ou a operação de uma fábrica, por exemplo, pode ser uma ameaça relevante à segurança caso não tenha sido bem treinada.

    2-    Inteligência artificial para já

    Mesmo com riscos, a recomendação é que as empresas se familiarizem com IA o quanto antes. “É essencial que, desde já, as organizações criem um ambiente de experimentação da inteligência artificial”, analisou Julie Bedard, diretora e sócia do Boston Consulting Group (BCG), durante o SXSW. É consenso entre os muitos especialistas no tema que participaram do evento que, tanto as organizações quanto os profissionais que não investirem no desenvolvimento de habilidades e produtos relacionados com inteligência artificial perderão muito espaço nos próximos anos.

    Pesquisa do Slack apresentada no evento indicou que uma em cada quatro pessoas nos Estados Unidos já usa IA no trabalho - 80% delas afirmam que tecnologia aumenta a produtividade. “O uso de IA vai crescer mais rápido do que o avanço de qualquer outra tecnologia anterior. As lideranças precisam absorver essa tendência, garantir que as pessoas e toda a organização venham junto”, analisou Sandy Carter, COO da Unstoppable e especialista em tecnologia.

    3-    IA alucinada

    Com tanto em jogo, é preciso um equilíbrio fino para trabalhar com inteligência artificial enquanto a tecnologia não está madura e não conta com parâmetros definidos. Ao mesmo tempo em que recomendam começar o quanto antes, futuristas e especialistas na tecnologia sugerem uma boa dose de cautela como pré-requisito. Sandy alertou para as chamadas alucinações ainda muito presentes nesses sistemas. 

    São respostas incorretas, que não se justificam pela base de dados usada pela IA. “Neste momento, tudo o que é gerado a partir de inteligência artificial precisa ser checado”, alerta a COO. Ela lembrou do caso da Air Canada, cujo chat deu uma informação incorreta a um consumidor que, claro, processou a companhia pelo prejuízo.

    “Não podemos assumir a tecnologia vai trazer informações precisas sem o treinamento adequado ou o acesso a uma base de dados bem abastecida”, lembra Sandy. Dados da startup Vectara indicam que até 27% das respostas das IAs têm alucinações.

    4-    Gêmeos digitais ganham força com inteligência artificial

    Os gêmeos digitais são conhecidos há bons anos do setor automotivo. Na prática, trata-se de recriar no ambiente virtual fábricas, por exemplo, simulando usos, manutenções, novas implementações, etc. Com a aceleração da inteligência artificial, a tendência é que o uso de gêmeos digitais se intensifique e ganhe novas aplicações, conta Sandy.

    As possibilidades passam por ter uma linha de montagem diretamente ligada com as demandas do consumidor e incluem ainda réplicas virtuais para carros e até cidades. “A Tesla já conta com um gêmeo digital para cada veículo que vende, o que ajuda na manutenção, a prever desgastes de peças, da bateria. Tudo com base no uso real do carro”, lembra. Ela cita ainda a cidade de Gotemburgo, na Suécia, que foi replicada virtualmente para que o poder público tenha mais elementos para tomar decisões.

    5-    Generalista criativo é o talento do momento

    Em meio a tanta tecnologia, há grandes mudanças previstas para a forma como as pessoas trabalham e as empresas funcionam. No lugar de grandes especialistas em uma determinada área, as organizações devem precisar cada vez mais de generalistas criativos. Essa é a aposta de Ian Beacraft, especialista em tecnologia e futuro do trabalho que também participou do SXSW. 

    Trata-se de um profissional que tem um conjunto de habilidades que permite a ele enxergar o todo e gerenciar projetos e empresas de forma interseccional, sem grande separação entre departamentos, como acontece hoje. “A informação vai ser armazenada e transmitida pela IA. Não faz mais sentido que as pessoas tenham muito conhecimento restrito a uma só área”, diz.

    Ele lembra que o tempo urge para quem quer garantir espaço nessa nova era. Nos últimos 18 meses, até mesmo o Google decidiu rever todo o seu portfólio de soluções ao constatar que a IA avança em ritmo mais rápido do que a empresa previa.

    “O desenvolvimento da tecnologia acontece mais rapidamente do que a adaptação das empresas e das pessoas. A liderança ruim dessa transição e o apego cego aos sistemas antigos são ameaça maior aos empregos do que a inteligência artificial em si”, diz.