Ary Coslov era um jovem de 20 anos quando assistiu, pela primeira vez, a “O inoportuno”, em montagem dirigida por Antônio Abujamra. À época, diante do consagrado texto de Harold Pinter, foi acometido por uma “revelação impressionante”, algo que jamais desapareceu da mente. O tempo passou, e o universo ficcional criado pelo dramaturgo inglês continuou a ser motivo de fascínio constante. Agora, depois de adaptar três obras do ídolo (“Traição”, “Pinteresco” e “A estufa”), o carioca se reconecta com o passado e compõem, ele mesmo, uma nova versão para o emblemático “O inoportuno”, originalmente conhecido como “O zelador”.
— Para mim, há um significado especial nisso tudo. Foi a partir dessa obra que eu e tantas outras pessoas no Brasil descobrimos esse autor especial — recorda ele, responsável pela atual encenação com os atores Daniel Dantas, André Junqueira e Well Aguiar, em cartaz desde a última sexta-feira no Teatro dos Quatro, no Shopping da Gávea.
A trama se estabelece a partir de uma situação-limite entre dois irmãos, quando um deles acolhe um suposto mendigo em casa. O conflito entre os personagens serve de base para desdobramentos ambíguos. Em cena, nada é apresentado de maneira óbvia. A todo momento, verdade e mentira se confundem.
— O espectador é tão envolvido na história que obrigatoriamente sai do teatro com vários questionamentos — afirma. — O que sobressai, no entanto, é a falta de compreensão do ser humano com seu semelhante. No momento em que estabelecemos uma relação com alguém, normalmente colocamos coisas nossas acima do entendimento do outro. E isso acontece até mesmo em relações afetivas próximas. Somos muito voltados para nós mesmos. A peça trata, especialmente, dessa incomunicabilidade. É curioso porque o assunto torna-se atual. Cada vez mais, vivemos num mundo mediano e abreviado.
Onde: Teatro dos Quatro. Shopping da Gávea, 2º piso. Rua Marquês de São Vicente 52, Gávea — 2239-1095. Quando: Sex, sáb e seg, às 21h. Dom, às 20h. Até 23 de dezembro. Quanto: R$ 80. Classificação: 12 anos.