• Por Patrick Monteiro; Fotos Fábio Cordeiro/Ed.globo
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Daniel Dantas (Foto:  )

Daniel Dantas

As mais de quatro décadas de carreira de Daniel Dantas garantiram ao carioca, de 62 anos, um notável lugar no hall de nossos grandes atores, mesmo sem viver grandes protagonistas na TV. “Não é o tamanho do personagem que determina intensidade”, diz ele, que tem mais de 20 filmes, 30 novelas e diversas montagens teatrais no currículo. Risonho e bem-educado durante este bate-papo com QUEM, Daniel confessa que nem sempre é assim no dia a dia. “Lamento isso, mas estou sempre tentando mudar”, diz. Pai do tradutor João, 35, do casamento com Zezé Polessa, e no ar como o padre Olinto, de Novo Mundo, ele abriu o coração sobre seu jeito de ser.

Seu filho é tradutor, inclusive de algumas peças suas. Ele teve interesse em seguir a carreira dos pais?
João foi se encontrando. Eu tinha uma tentativa séria de não influenciá-lo e deixar que seguisse seu caminho. Quando João era garoto, descobri que ele estava fascinado por carros. Em todos os sentidos, eu acho carro uma das coisas mais idiotas que existe. A minha vontade de dizer ‘não’ era grande, mas fiquei quieto. Quando ele começou a trabalhar com cultura, pensei em como iam olhar para ele, mas acredito que, assim como eu sobrevivi, ele sobrevive bem. Da mesma forma que não tolhi João com o carro, não ia tolher na arte. 

Você foi um pai muito exigente?
Não. Ele é um barato, eu e Zezé sempre fomos muito apaixonados por ele. Nunca fui um pai exigente em nada, talvez devesse ter sido em algumas coisas, como o horário de dormir. Uma descoberta bacana que se faz na vida é quando você olha para o seu filho e diz: “Ele não sou eu, ele não é a Zezé, ele é realmente uma outra pessoa”. Isso é incrível!

Quando percebeu isso?
Esse momento veio em uma constatação ruim: por mais que eu tente, não vou conseguir impedir o meu filho de, eventualmente, sofrer. Uma hora ele vai sofrer e é absolutamente necessário sofrer.

Depois da união com Zezé, você não se relacionou mais publicamente. Acredita na vida a dois?
De uma certa forma estive casado, gosto de casar, de viver a dois. E vou aprendendo bem como fazer, mesmo que um casamento não sirva de receita para outro. Namorei por cerca de três anos e meio com uma paulistana, o que complica muito a vida. Vivíamos na ponte aérea. Nos conhecemos em uma estreia no Rio e tivemos um negócio muito bonito.

Daniel Dantas (Foto:  )

Daniel Dantas

Você declarou que todo elenco deve ter um limite de chatos e de chato bastava você. Em que sentido você é chato?
Em vários. Estou escolhendo, mas é uma seleção (risos). Eu falo demais ou de menos, nunca fico satisfeito com a medida do que falo. Vou sair dessa entrevista puto da vida por ter falado demais (risos). Dou a impressão de ser mais autocentrado do que de fato sou. Já me disseram que isso não é comunicação, o que é um erro.

Alguma vez, isso criou problemas?
Com certeza. Acham que sou mal-educado. Não importa se essa minha ação é timidez, ou vontade de não incomodar, o resultado é uma coisa mal-educada. Lamento isso. Talvez, quando eu era adolescente, valesse alguma coisa como marca de individualização, mas, hoje em dia, é só um defeito. É uma verdade, mas não sou para as pessoas em geral. Estou tentando mudar sempre (risos).

Daniel Dantas (Foto:  )

Daniel Dantas 

Abandonou algum projeto por desentendimento?
Não. Tive brigas sérias em teatro, mas a ponto de sair, não. Talvez, indiretamente, tenha levado algum ator a sair do projeto. Já houve um desentendimento que poderia ter ficado na questão artística e ficou mais sério porque a pessoa foi grossa comigo e aí... (coça o queixo). Teatro é a minha casa e não briga comigo na minha casa. Ali, não tenho medo de nada, não tem porquê.

Quando você se sente inseguro atuando?
Não me sinto. É uma das poucas coisas em que eu sou seguro na vida. Mas me sinto tanto mais inseguro quanto pior o texto. Quanto melhor for, mais tenho por onde fazer ficar bom. Quando é limitado, ruim, bobo, não tem jeito de ficar bom.

Com mais de 20 filmes na carreira, como vê o mercado de cinema no Brasil?
Melhoramos muito em alguns aspectos, não resolvemos quase nada de outros e precisamos tomar alguns cuidados. É inevitável que olhemos para o mundo buscando modelos, ou referências, para os modos de atuação. Uma dica é não escolher os americanos para copiar. Por quê? Eles não são os melhores nisso. Se tivermos que seguir alguém, vamos seguir os russos, os britânicos. É tudo mastigado na atuação americana.

Como está Novo Mundo?
A história é muito boa e é agradável mudar o visual. Nas leituras, fiquei sabendo que faria um padre português. E sotaque me apavora. É uma das coisas que ator acha que sabe fazer e não sabe. Mas, acredito que está saindo legal. Poucas vezes acho que preciso refazer a fala da cena. E é algo que me desafia a aprender.