sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Susto

SUSTO
                                                       BASEADO EM UMA HISTÓRIA REAL.


CASA – MANHÃ/NUBLADO

O dia era sábado. Um sábado nublado, frio e perfeito para ficar na cama. O problema era o trabalho. A garganta e o trabalho.
Eu costumava levantar as dez, para entrar naquela loja por volta do meio dia, porém, justamente naquele dia, reinou o desejo de rolar de um lado para o outro.

Sem saber de nada, no quarto ao lado, a mesma idéia se desenvolvia na cabeça de um amigo, o Marlon, que sem muitos motivos e, assim como eu, decidia por ficar em casa.

Eu: - E aí velho! Vai trabalhar?

Marlon: - Tenho que trabalhar, mas tô com uma puta vontade de ficar em casa hoje. Acho que vou ligar lá no trabalho e inventar qualquer desculpa.

Eu: - Tá ligado que faltando no sábado vão te descontar uma grana do seu salário né?

Marlon: - Então, isso é que tá dificultando as coisas...

Eu: - Cara, eu também to querendo ficar em casa hoje. Faz o seguinte, liga no teu trabalho e inventa um problema de saúde, sei lá, depois eu ligo lá na loja e a gente dá uma chegada no posto de saúde pra pegar um atestado.

Marlon: - Atestado? Como é que faz pra conseguir isso?

Eu: - Fácil! É só chegar lá e alegar qualquer coisa, vão te examinar rapidinho e te dar o atestado, basta explicar que por conta do ocorrido você não pôde ir trabalhar.

Marlon: - Bom, demorô, vamos atrás desse atestado!

RUA – TARDE/NUBLADO

Vestimos uma roupa qualquer e seguimos andando em direção ao posto, localizado a quinze quadras da nossa casa.
No caminho, discutimos a respeito do plano e buscamos opções viáveis de enfermidades, pois não seria possível conseguir uma consulta sem que algo plausível estivesse acontecendo.

Marlon: - Você tá mal de verdade?

Eu: - A garganta! Tá me matando!

Marlon: - Sério?

Eu: - Sério! Mas pelo menos tenho como mostrar a amídala saltada e assustar um pouco a recepcionista!

(risos)

Marlon: - E eu vou falar o quê? Que tô com febre? Diarréia?

Eu: - Você pode falar que comeu alguma coisa estragada e que tá passando mal.

Marlon: - Não sei. Posso falar que tô com dor de barriga né, quando a dor é na barriga pode ser um monte de coisa, tipo virose, etc.

Eu: - Exato. Chega lá e bota na roda essa idéia.

Perto do posto, depois de andar por quase meia hora, decidimos que não deveríamos entrar juntos, então, entrei primeiro., retirei a senha, preenchi o cadastro e fui me sentar. Não havia muita espera. A consulta não iria demorar. Na seqüência, entrou o Marlon, com a mão na barriga e uma cara de cão sem dono. Sentou três cadeiras à minha esquerda e fingiu que não me conhecia. Dois minutos depois, foi chamado. Fiquei indignado! Cheguei primeiro! Porém, se eu soubesse do que estava por vir, não teria dado muita importância.

POSTO – QUASE NOITE

Marlon: - Bom, vou lá pegar esse atestado!

Eu: - Vai lá cara, boa sorte!

Dez minutos depois, ele volta com a boa notícia.

Marlon: - Irmão! Querem me levar para um hospital maior! Tenho que passar por uma reavaliação!

Eu: - Reavaliação? Por que cara?

Marlon: - A médica perguntou o quê que eu tinha e eu disse que tava com a barriga dolorida, aí ela começou a me apertar, perguntando se eu sentia dor ou não. Como tô precisando do atestado, falei que tava doendo e muito, agora ela acha que eu tô com apendicite, querem me levar de ambulância para um hospital maior.

Eu: - Que absurdo! E você vai?

Marlon: - Nunca andei de ambulância! Vou ficar sem o atestado? Tenho que ver qual é né!

Eu: - Que maluquice cara! Bom, fica esperto lá hein!

Marlon: - Relaxa! Logo mais eu volto!

Enquanto isso, fui examinado e encaminhado para a sala de raio-x, com suspeita de bronquite ou algum problema relacionado ao pulmão. Fui só pra garantir o atestado. O que doía mesmo era a garganta, mas, nesse caso, o melhor foi seguir as orientações de uma “profissional”.

Trinta minutos depois, de volta ao posto, ele me encontra e me conta sua aventura.

POSTO – NOITE

Marlon: - Cara, não tô acreditando! Dei um rolê de cinco minutos até chegar no hospital. Chegando lá, preenchi um formulário e ouvi a enfermeira responsável dizer que era caso de cirurgia direto, e que iam tentar me passar na frente dos demais pacientes!

Marlon: - Queriam me operar! Sem nem me reexaminar! Me fizeram sentar, dentro de uma sala, cheia de sangue esparramado pelo chão, enquanto cochichavam, dizendo que o caso era grave e que a operação tinha de ser realizada o mais rápido possível.

Eu: - E aí, o quê você fez?

Marlon: - Precisava dar um jeito de escapar de lá! Foi aí que a tal enfermeira voltou com a má notícia (que para mim foi muito boa). Para entrar na faca eu teria de esperar cinco horas! Cinco horas! E isso por que hoje é sábado! Ela disse que tem dias na semana que uma operação dessas leva de quatro a oito horas de espera!

Eu: - (risos)

Marlon: - Porra! Se eu tivesse com apendicite mesmo, teria passado muito perrengue! Cinco horas pra ser operado, pelo amor de Deus!

Eu: - E como você saiu de lá?

Marlon: - Fingi entrar em pânico, botei a mão na barriga, bem no lugar do apêndice e comecei a falar que isso era absurdo, que eu não poderia esperar tanto, que estava sentindo muita dor e que seria melhor procurar por outro hospital! Botei o terror e meti o pé! Saí fora!

Eu: - Saiu fora? Assim mesmo? Na marra?

Marlon: - Não! Falei que minha casa era do lado do posto e pedi uma carona para voltar de ambulância. Pra quem nunca tinha andado de ambulância na vida, andar duas vezes no mesmo dia é lucro!

Eu: - Pelo menos isso né! E o atestado? Conseguiu?

Marlon: - Paciência cara, não consegui! Mas pelo menos dei um bonde de ambulância...

(risos)
FIM

(para ler a segunda parte) http://tinyurl.com/87r4meo